" Se a mão de Deus protege e molha o nosso chão, por que será que tá faltando pão?"
A questão da luta agrária nacional
tem varias bases ideológicas e aspectos diferentes em relação às diferentes
classes agrárias e territórios disputados por estes juntamente com grandes
capitalistas rurais e grileiros. Fazer reforma agrária, para promover a classe
menos favorecida do meio rural, lutar contra a expropriação, a peonagem, a
grilagem de terras e as mais diversas formas de violência no campo, nunca foi,
e muito menos é interesse dos governantes do país, uma vez que sempre apoiaram
a propriedade privada, tanto no caráter jurídico como no caráter judiciário.
O Brasil evidencia lutas agrárias
desde o seu “descobrimento”, os índios tiveram suas terras invadidas e tomadas
pelos portugueses que aqui chegaram, foram descriminados pelos seus hábitos
culturais e religiosos, explorados, escravizados, e os que não aceitaram, foram
exterminados. Depois da falência desse sistema os portugueses passaram a demarcar
áreas de terras e “doa-las” para os que aqui quisessem viver, muitos deles
marginais, no contexto histórico essa doação se caracteriza com o que chamamos
de capitanias hereditárias, onde a posse da terra passava de herdeiro para
herdeiro, uma das causas da concentração dos latifúndios. A perseguição ao
camponês torna-se mais acentuada e
violenta com o golpe militar de 1964, onde os militares tomaram o governo do
até então presidente João Goulart, com uma proposta de desenvolvimento
nacional, com base na modernização da indústria nacional, incentivo a entrada
de investimento estrangeiro direto e modernização da agricultura e pecuária. A
questão agraria brasileira agora passa a ser uma questão militar, com intervenções
militares em conflitos por terras em todas as regiões do Brasil, o governo
militar, as forças de defesas nacionais e o poder judiciário foram ausentes na
promoção de melhores condições de vida para os camponeses e para aqueles que
utilizam a sua força de trabalho no meio rural, entre eles trabalhadores rurais
e posseiros que ocupam certo território, mas que não possuem a posse dessa
terra, o que abre a possibilidade de serem expropriados por grandes
capitalistas, ou terem suas terras griladas pelos “traficantes de terras”.
A luta dos trabalhadores rurais, meros
produtos e produtores do sistema capitalista,adquire caráter trabalhista com a
presença do trabalhador livre e assalariado, trava-se disputas entre o proletariado
e grande capitalista que antes era o senhor do engenho tem a nomenclatura
alterada: fazendeiros ou capitalistas. Trabalhadores registrados reúnem-se em
sindicatos, o que possibilita um poder maior de barganha em relação a luta
salarial, já os trabalhadores não registrados, chamados de clandestinos, são
explorados chegando a ter cargas horárias de trabalho superiores a 14 horas
diárias, salário abaixo do salário real, privados de direitos trabalhistas.
Caso diferente acontece com os posseiros, já que a terra é o seu instrumento de
trabalho, diferente dos trabalhadores rurais, onde a terra é um fator de
trabalho, os posseiros lutavam pela legalização de sua situação, pois ocupavam
terras que não eram de sua propriedade legal, mas sim instrumento de trabalho e
exploração que eram inutilizadas pelo grande latifundiário, sendo objeto de
especulação ou apenas pasto para o gado.
Vale ressaltar a importância do movimento
campesinato organizado nesse período o “MST- Movimento Sem Terra”, organizado
inicialmente no estado do Paraná, e que rapidamente expandiu-se para todo o
pais,era trabalhadores marginalizados pelo capitalismo que buscavam direitos
como:reforma agrária, melhor condições de vida no campo, o movimento era
composto principalmente por trabalhadores rurais e filhos de camponeses que por
terem famílias numerosas não tinham terra suficiente para produzir e
consequentemente para subsistência.
A classe do campesinato brasileiro
mobiliza segmentos distintos como a Igreja, a principio a evangélica e
posteriormente a católica que até hoje levanta a bandeira do movimento,
destinando pastorais especificas como a Pastoral da Terra. A influência
religiosa data de um tempo passado, durante os primeiros conflitos da era Republicana
como Canudos, onde o “conselheiro” por meio do evangelho orientava aos
sertanejos marginalizados em “sem terra” a lutarem contra o regime de
exploração, buscavam a terra prometida, da libertação e acreditavam que a
profecia bíblica cumpria-se ali no Sertão da Bahia no arraial de Canudos. É o
mais extermínio de camponeses que a história registra e que depois de mais de 2
séculos a luta ainda não cessa e que a morte de Antonio Conselheiro(Canudos),
Zé Maria (Contestado) e de líderes tanto religiosos como os cangaceiros do
Sertão (Lampião) não representou o fim da luta.
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