terça-feira, 19 de junho de 2012

Dinheiro tornou-se um vício


O bengalês Muhammad Yunus, conhecido como ‘banqueiro dos pobres’ e Nobel da Paz em 2006, afirmou nesta terça-feira (19) que o mundo dos negócios não pode ser focado somente na “maximização dos lucros” e que os chamados “negócios sociais” podem representar uma grande força para resolver os problemas globais.

“Dinheiro tornou-se um vício. Mas fazer dinheiro é simplesmente um meio e não um fim”, afirmou durante o Rio+Social o fundador do maior banco do microcrédito do mundo. Yunus fundou o Graeem Bank em 1983 e, com essa instituição, já concedeu créditos para mais de 8 milhões de bengaleses, em sua maioria, mulheres.

Segundo ele, os negócios focados 100% no lucro podem mudar e também ter uma parte das atividades voltadas para o social para darem também algum retorno para a sociedade.

"A questão-chave não é maximizar lucros com o banco ou não, mas investir no próprio banco e não nos donos dele", afirmou Muhammad Yunus.

O Nobel considerou a Rio+20 como uma oportunidade de inspiração para renovar promessas e, se possível, mudar o mundo.

O Rio+Social discute o uso da tecnologia, mídia digital e ações sociais para ajudar a desenvolver soluções sustentáveis para enfrentar os maiores problemas do planeta.

Yunus compara as redes sociais como um rio que corre em direção a uma cachoeira. “Quando mais fluxo, melhor”, disse.
O Rio+Social  reuniu nesta terça-feira personalidades como Ted Turner, magnata da mídia e fundador da CNN; Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile e atual diretora executiva da ONU Mulheres, e o britânico Rihard Branson, fundador do Virgin Group, que comandou uma mesa de debates sobre inovação.
Branson, que investe em áreas como turismo espacial, afirmou que o seu grupo está sempre pesquisando oportunidades de negócios em tecnologias inovadoras e que está avaliando novas oportunidades relacionadas a oceanos. Questionado por jornalistas se estaria de olho em oportunidades de negócios sustentáveis no Rio, disse apenas: "Acabei de chegar".

Fonte: G1 em  19/06/2012

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Entre as velhas e as novas “caras” na política local: mudança ou permanência na próxima eleição?





Política parece ser um tema que, cotidianamente, não chama muito a atenção da população em geral, mas em véspera de eleição desperta-se o interesse pelo tema de tal forma que parte significativa do eleitorado se manifesta com veemência em favor de um ou de outro grupo político, semelhante as práticas das torcidas de futebol...
Aproveitando essa atmosfera que começa a ser formada e trago uma reflexão que julgo importante. Trata-se da questão que envolve a escolha dos mesmos políticos ou de novos nomes que surgem, o que convencionalmente chamamos de “novas e velhas caras”.
Comumente afirma-se que
é saudável à democracia uma alternância no poder (da administração ou da legislatura). As vezes tal afirmação vem carregada de um desejo de mudanças estruturais na política local, o que não garantirá melhorias. Grosso modo, existe uma interpretação de que um “nova cara” estaria ligada a uma nova forma de governar ou legislar e, “velhas caras” sendo entendidas como sinônimo de continuidade das antigas práticas. Certamente esta interpretação é ingênua. As “velhas” ou as “novas” caras não estão correlacionadas ao modelo de gestão e legislatura, não podendo ser associada à mudanças ou  à permanências. “Novas caras” não garante que novas práticas serão postas em práticas, uma vez que, estas “novas caras” podem está inseridas em um grupo realizador de velhas práticas; assim como, “velhas caras” podem se abrir para novas práticas. Certamente este último é menos recorrente.
Outro problema que merece atenção é que a suposta “nova cara” pode não ser fruto de um novo grupo. A suposta “nova cara” pode ser apenas o “testa de ferro” do grupo tradicional. Uma verdadeira “nova cara” não significa necessariamente um candidato desconhecido do meio social, mas um indivíduo nunca inserido no poder e representante de um grupo, outrora não representado. De outra forma, “velha cara” pode se desvincular do grupo que tradicionalmente detém o poder e passar a representar novos interesses e caminhar rumo à mudanças significativas.
Posto isto, quero chamar a atenção para o fato de que a alternância no poder e a possível mudança na gestão ou na legislatura não está necessariamente ligada ao candidato, mas ao grupo que este está vinculado. Em outras palavras, se o eleitor deseja mudanças deverá escolher um candidato que está vinculado com grupos comprometidos com transformações “desejáveis”. É importante estar atento que mudanças não são sinônimas de melhorias.
Quanto a alternância no poder, não existe necessariamente relação causal com a saúde da democracia ou ao maior desempenho dos que estariam alternando-se no poder. A saúde da democracia depende mais da disputa do que da alternância. Ou seja, o grupo que detém o poder político deve se sentir ameaçado por outros grupos. A ameaça de perda do poder funciona como estímulo à melhoria de seus trabalhos de gestão, administração, fiscalização e de legislatura. O importante é existir oposições (no plural) que tenham reais chances de conquistarem o poder político.
Como exemplo, notamos o fato noticiado por alguns meios de comunicação referente a constante ausência de muitos dos vereadores de Piúma nas sessões da Câmara. Essa prática aponta para duas possibilidades: 1. estariam esses vereadores tão confiantes na reeleição que desprezam a necessidade de desempenhar sua função real e; 2. não estão desejosos de continuar na legislatura. Acredito que a primeira possibilidade parece se enquadrar melhor à realidade piumense. Mas, por que tamanha confiança e, consequentemente, relaxamento? Essa situação está ligada a falta de uma ameaça concreta, contundente e presente da oposição e da certeza (pelo menos assim indicam suas atitudes) de que a população não quer mudanças de “caras”, ou pelo menos, não age para efetiva-la.
Para aqueles que acreditam que mudanças são necessárias, afirmo que precisamos de “verdadeiras caras novas” (“novas caras” desvinculadas aos “velhos grupos”), mesmo que suas propostas não sejam contundentes, ainda que não representem efetivamente os grupos de outrora não representados, mas, na pior das hipóteses, terão mais opções de voto e as “velhas caras” se sentirão ameaçadas. Quem sabe estes não resolvem realizar de forma efetiva seu papel real, ou ainda, quem sabe a população não os aposentam, já que “envelheceram”... Isto é apenas uma questão de escolha e o período mais propício para isso se aproxima.

Cristiano das Neves Bodart, mestre em Planejamento Regional e Gestão de Cidades/UCAM e doutorando em Sociologia na Universidade de São Paulo/USP.

Fonte: Jornal Espirito Santo Notícias - nº 17, 2º quinzena 06/06/2012